PT/ES. 17.06.2017. Nathalia Quintiliano.
A Polarização do Golfo e seus recentes desdobramentos na Era Trump

A recente crise política no Golfo deixou o Catar, um dos menores e mais ricos países do mundo, em clima de instabilidade econômica, política e social. Sob a acusação de incitar o extremismo e o terrorismo ao apoiar particulares grupos islamitas, e também de estreitar os laços com a Republica Islâmica do Irã, os governos do Reino da Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Republica Árabe do Egito cortaram relações diplomáticas com o país no dia 05 de Junho de 2017. A decisão aconteceu dias depois da vista do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à Arábia Saudita.
A escolha de Riad como a primeira visita oficial da nova administração de Washington mostrou a aproximação entre os dois países, e garantiu o apoio necessário para a tentativa de consolidar a liderança da Arabia Saudita entre os países do Golfo. Alem disso, a escolha reafirmou o posicionamento estadunidense em relação ao Irã, grande rival saudita na região.
Após o vazamento de uma publicação na mídia nacional catari reafirmando os laços do Emir Tamim bin Hamad al-Thani com o Irã, defendendo seu apoio a grupos islamitas como o Hamas, na Faixa de Gaza, a Irmandade Muçulmana no Egito, e a Jabhat Fateh AL Sham, filial da Al Qaeda na Síria, a tensão entre o Catar, e os outros membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) escalou. Apesar da declaração do Emir AL-Thani de que a publicação foi resultado da ação de hackers, e que, portanto, seria falsa, embaixadores de três países do Golfo (Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Arábia Saudita), e também do Egito, foram rapidamente retirados da capital, Doha, e as ligações diplomáticas, terrestres, marítimas e aéreas com o país foram cortadas. A publicação continua sendo veiculada em uma espécie de guerra midiática entre os países da região. Os cidadãos do Catar que estavam residentes, a turismo, ou negócios, receberam um prazo de duas semanas para retornar ao seu país de origem. As representações das companhias aéreas e marítimas do Catar foram fechadas, e no momento estudam alternativas para as suas rotas internacionais, ja que não podem sobrevoar o espaço aéreo ou frequentar os portos desses países. Enquanto isso, companhias como Emirates e Etihad de Dubai e Abu Dhabi, respectivamente, já interromperam as suas rotas para o Catar desde o dia 07 de Junho. Na Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes, por exemplo, já é legalmente proibido declarar qualquer tipo de solidariedade aos vizinhos cataris, e a punição pode chegar a 15 anos de prisão. Os sinais da emissora de TV Al Jazeera também foram interrompidos.
Abruptamente, o Catar se encontrou isolado e sem uma perspectiva concreta no complexo jogo geopolítico da região. Ira e Turquia pediram dialogo para resolver a crise, e declararam seu apoio ao país prometendo fornecer alimentos. A Turquia decidiu enviar soldados para a sua base militar no Catar, mostrando apoio à Doha, porém sem enfrentar os sauditas. E, apesar do apoio entusiasmado de Trump à Riad, uma ruptura diplomática no Golfo dificilmente atenderia aos interesses de Washington na sua coalizão contra o terrorismo transnacional. O Catar abriga uma base importante da Força Aérea estadunidense, a Al Udeid, usada principalmente nas batalhas contra o Estado Islâmico, e controla o espaço aéreo de quase 20 países ao redor, contando com mais de 10 000 militares no pais. Segundo o Secretario de Estados EUA, Rex Tillerson, a questão é unicamente diplomática, e o Pentágono não espera nenhuma mudança nas suas operações.
A disputa pela liderança do Golfo é uma constante entre os países membros do CCG e o Irã desde a sua criação, em 1981, após o advento da Republica Islâmica no Irã em 1979. O Estreito de Ormuz, que liga o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã é o mais importante do mundo para o comércio de óleo e gás. Estima-se que 35% do comércio marítimo de petróleo mundial passe por ali, sendo em media 17 milhões de barris de petróleo diariamente. Ao Norte do Estreito encontra-se o Irã, gigante xiita, e ao sul o rival saudita, o Sultanato de Omã e os Emirados Árabes Unidos. As enormes reservas petrolíferas dão importância estratégica ao Golfo Pérsico, e deixam a região em uma constante corrida pela liderança, geralmente pleiteada pela Arábia Saudita e disputada pelo Irã. No meio desta crescente polarização, pequenos (porem prósperos e influentes) países como Catar, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e mais o Sultanato de Omã, parecem buscar através de políticas discretas ou mais abertas (como é o caso do Catar) o meio de lidar com esta rivalidade de forma que a estabilidade econômica não seja afetada, e a identidade própria não seja nulificada.
Em via de regra, existe certo nível de coesão na política externa dos países participantes do CCG. O Bahrein, por exemplo, é um pais insular na linha de frente da guerra por procuração entre Arabia Saudita e Ira. Com uma população majoritariamente xiita, mas com uma liderança sunita, o pais é fortemente dependente de Riad para sua segurança interna, o que geralmente garante um alinhamento instantâneo do Bahrein à agenda política saudita.
Já os Emirados Árabes Unidos, mais independentes economicamente, muitas vezes optam por uma neutralidade comercial entre Riad e Teerã, visto que durante as sanções impostas contra o Irã, Dubai era o centro financeiro e o porto que movimentava as cargas destinadas a Teerã. No entanto, clivagens internas no passado fizeram com que as monarquias de Dubai e Abu Dabi criassem uma política restrita e de tolerância zero contra grupos islamitas. Durante a Primavera Árabe, em 2011, o braço da Irmandade Muçulmana, o Al-Islah, ganhou certa influência nos emirados mais pobres da Confederação. Dubai e Abu Dabi, as monarquias mais prósperas, decidiram extinguir as aspirações deste e outros grupos islamitas de forma bastante radical, alinhando-se politicamente com a Arábia Saudita.
Entre os países membros da CCG, o Catar, país com apenas 2,4 milhões de habitantes sendo 90% destes expatriados, e aproximadamente 11 milhões de km², é o que mantém a sua política externa mais distinta de seus vizinhos. Além dos laços com o Irã, o apoio aberto á Irmandade Muçulmana no Egito, e a certos grupos islamitas de oposição na Síria e Líbia fez com que a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Bahrein retirassem seus embaixadores do país já em 2014. Após negociações, a questão foi resolvida de forma diplomática, mas naquele momento ficava claro que o Catar precisaria se alinhar ao restante do Conselho para que houvesse mais coesão estratégica. Entretanto, o fluxo financeiro constante proveniente do Catar para esses grupos islamitas chocou-se com as políticas de combate ao terror americanas, tornando o pais uma possível ameaça ao Conselho do Golfo, alinhado à agenda estadunidense.
O Impacto Econômico
Os países do Golfo estão entre os mais ricos do planeta. O Catar teve o maior PIB per-capita de 2016. Diferentemente de seus países vizinhos, não é o petróleo, mas sim a exploração de Gás Natural Liquefeito (GNL) o carro-chefe que garante a forte economia do país. O Catar é o maior exportador de Gás Natural Liquefeito do mundo, responsável por um terço do comércio global. A aproximação natural entre Irã e Catar se deve ao compartilhamento da South Pars / North Dome Field, o maior campo de gás natural do mundo. Cobrindo uma area de 9 700 km2 dos quais 6 000 km2 (North Dome) pertencem ao Catar, e 3 700 km2 (South Pars) pertencem ao Irã, o campo produz mais de 60 milhões de pés cúbicos de gás natural diariamente. Em abril deste ano, o Catar declarou suas intenções de reiniciar o desenvolvimento da área sul do North Dome, ao levantar uma moratória auto-imposta há 12 anos. Segundo o CEO da Qatar Petroleum “um estudo confirmou o potencial para o desenvolvimento de um novo projeto com uma capacidade de 2 bilhões de pés cúbicos/dia.” A decisão certamente ajudará o Catar a manter sua vantagem competitiva em 2020, quando se especula uma diminuição da demanda global.
O comércio de GNL entre os países do Golfo é relativamente baixo: A via de abastecimento de gás que sai do Catar para os Emirados Árabes, e que também abastece Oma, chamada Dolphin, consome 1.8 bilhões de pés cúbicos diariamente, e a capacidade do gasoduto é de 33 bilhões de m³/ano. Todavia, os maiores compradores do GNL catari são da Ásia. A japonesa JERA Co., maior compradora de gás natural da atualidade, foi informada pela Qatargas de que não haverá qualquer mudança no abastecimento providenciado pelo Catar aos seus compradores. No entanto, a JERA Co. declarou no dia 12 de junho que “a crise se trata de uma questão geopolítica do Oriente Médio, existindo a possibilidade de afetar o setor de Energia, e que portanto estariam atentos à movimentação do mercado.”
As operações logísticas, por sua vez, serão bastante afetadas. Seis navios-tanque ancorados nos Emirados Árabes deverão ser removidos. Navios oriundos ou destinados ao Catar não poderão utilizar portos estratégicos da região, como Fujairah, por exemplo, um porto chave nos EAU para abastecimento de tanques. A maior companhia marítima de contêineres – a Maersk Lines – foi oficialmente informada do novo regulamento, e publicou esta semana que está a procura de rotas alternativas para manter o comércio na região. As linhas aéreas enfrentam problemas similares: a rota da Qatar Airways, por exemplo, foi drasticamente reduzida, e companhias aéreas como Etihad e Emirates ja encerraram sua rota para o Catar. Alem disso, o pais conta com apenas uma fronteira terrestre, sendo esta com a Arábia Saudita, que no momento encontra-se fechada. Por ser altamente dependente da importação de alimentos, o bloqueio dos países vizinhos vem assustando a população sobre uma possível crise alimentar. Segundo o jornal catari Al Jazeera, muitos cidadãos já começaram a estocar alimentos e itens básicos.
Uma medida de retaliação por parte do Catar também seria uma possibilidade, apesar de bastante remota, segundo alguns analistas. Apesar de não manter contratos diretos com o país, o Egito conta com o gás natural catari para abastecimento interno. Como a negociação é feita via tradings suíças que não utilizam frotas do Catar, o bloqueio imposto pelo CCG não afetaria o estoque egípcio. No entanto, o Catar legalmente pode emitir restrições de destino e usuário final, afetando assim a economia egípcia.
Analistas afirmam que direcionar as relações dos Estados Unidos apenas para a Arábia Saudita, ignorando o importante papel que o Irã desempenha na região, pode ter sido um grande erro estratégico de Washington: se o que o Ocidente espera é um Oriente Médio mais estável, não será possível fazê-lo em termos unicamente sauditas, sem a inclusão de players fundamentais para a região.
O mercado parece aguardar o desenvolvimento da crise diplomática enquanto se prepara para qualquer desfecho possível. No entanto, até o momento, parece bastante improvável que o mercado de GNL entre em crise, mesmo com as incertezas políticas. A decisão da CCG, entretanto, parece um caminho sem volta para todos os envolvidos. Resta saber se o Catar ira ceder à pressão de seus vizinhos, ou eventualmente sair do bloco e manter a sua independência, criando um novo contexto no complexo tabuleiro geopolítico da região.
Sobre a autora:
Nathalia Quintiliano é Oficial das Nações Unidas e atualmente trabalha para o Mecanismo de Monitoramento do embargo de armas e munições imposto aos grupos de oposição no Iêmen. Nathalia atua também como ponto focal da UNOPS Djibouti para a Força-tarefa para a Prevenção de Abuso e Assédio Sexual no pais.
Este artigo em Le Monde Diplomatique Brasil em Julho 2017
La polarización del Golfo y sus recientes desdoblamientos en la era Trump

La reciente crisis política en el Golfo dejó a Catar, uno de los países más pequeños y más ricos del mundo, en un clima de inestabilidad económica, política y social. A partir de la acusación de incitar al extremismo y al terrorismo no solo mediante el apoyo a grupos islamistas particulares, sino también por estrechar los lazos con la República Islámica de Irán, los gobiernos del Reino de Arabia Saudita, Bahrein, Emiratos Árabes y la República Árabe de Egipto cortaron relaciones diplomáticas con Catar el 5 de junio de 2017. La decisión fue tomada días después de la visita del presidente de los Estados Unidos, Donald Trump, a Arabia Saudita.
La elección de Riad como primera visita oficial de la nueva administración de Washington mostró un claro acercamiento entre los dos países y garantizó el apoyo necesario para la tentativa de consolidar el liderazgo de Arabia Saudita entre los países del Golfo. Asimismo, la visita reafirmó el posicionamiento estadounidense en relación con Irán, el gran rival saudita en la región.
Luego de que se filtrara una publicación de los medios nacionales cataríes reafirmando los lazos del Emir Tamim bin Hamad al-Thani con Irán, en la que defiende su apoyo a grupos islamistas como Hamas en la Franja de Gaza, la Hermandad Musulmana en Egipto, y Jabhat Fatah Al Sham -filial de Al Qaeda en Siria-, la tensión entre Catar y los otros miembros del Consejo de Cooperación del Golfo ha aumentado. A pesar de la declaración del Emir Al-Thani de que la publicación fue filtrada por hackers, y que, por lo tanto, era falsa, los embajadores de tres países del Golfo (Arabia Saudita, Emiratos Arabes y Bahrein), y también el de Egipto, fueron retirados de la capital, Doha, y las relaciones diplomáticas y cualquier tipo de interacción terrestre, marítima y aérea con el país fueron interrumpidas. La publicación continúa siendo transmitida en una especie de guerra mediática entre los países de la región. Los ciudadanos de Catar que eran residentes, o que estaban en el Golfo por turismo o negocios, recibieron un plazo de dos semanas para retornar a su país de origen. Las representaciones de las compañías aéreas y marítimas de Catar fueron cerradas y en este momento estudian alternativas para sus rutas internacionales, ya que no pueden sobrevolar el espacio aéreo ni frecuentar los puertos de esos países.
Mientras tanto, compañías como Emirates y Etihad, de Dubai y Abu Dabi respectivamente, ya interrumpieron sus rutas a Catar desde el 7 de junio. En Arabia Sudita, Bahrein y Emiratos Árabes, por ejemplo, ya es ilegal manifestar cualquier forma de solidaridad hacia sus vecinos cataríes, y el castigo puede llegar hasta 15 años de prisión. Le señal de televisión Al-Jazeera también fue cerrada en estos países.
De pronto Catar se vio aislado y sin una perspectiva concreta en el complejo juego geopolítico de la región. Irán y Turquía han llamado al diálogo para la resolución de la crisis y declararon su apoyo al país, prometiendo suministros de alimentos. Turquía decidió enviar más soldados a su base militar en Catar, mostrando su apoyo a Doha, pero sin enfrentar a los sauditas. Y, a pesar del apoyo de Trump a Riad, una ruptura diplomática en el Golfo difícilmente atendería los intereses de Washington en su coalición contra el terrorismo transnacional. Catar alberga una importante base de las Fuerzas Aéreas estadunidenses, la Al Udeid, utilizada principalmente en las batallas contra el Estado Islámico, y controla el espacio aéreo de casi 20 países alrededor, contando con mas de 10.000 militares en el país. Según el Secretario de Estado de los EUA, Rex Tillerson, la cuestión es únicamente diplomática y el Pentágono no espera ningún cambio en sus operaciones.
Dos años más tarde de que Irán se declarara república islámica –en 1979-, se creó el CCG (Consejo de Cooperación del Golfo). Desde entonces la disputa por el liderazgo del Golfo es una constante entre los países miembros de esta organización regional e Irán. El Estrecho de Ormuz, que liga el Golfo Pérsico al Golfo de Omán, es el más importante del mundo para el comercio de petróleo y gas. Se calcula que el 35% de todo el comercio marítimo petrolífero pasa por allí diariamente. Al norte del Estrecho se encuentra Irán, gigante xiita, y al sur, el rival saudita, como también el Sultanato de Omán y los Emiratos Árabes Unidos. Las enormes reservas petrolíferas le dan una importancia estratégica al Golfo Pérsico y deja a la región en una constante lucha por el liderazgo, generalmente liderada por Arabia Saudita y disputada por Irán. En el medio de esta creciente polarización, pequeños (aunque prósperos e influyentes) países como Catar, Bahrein, Emiratos Arabes Unidos, Kuwait y, más al sur, el Sultanato de Omán, parecen buscar a través de políticas discretas o más abiertas (como en el caso de Catar) la forma de lidiar con esta rivalidad sin que se vea afectada la economía ni se anule su propia identidad.
Por regla general, existe cierto nivel de cohesión en la política externa de los países participantes del CCG. Bahrein, por ejemplo, es un país insular en la línea de fuego de la guerra entre Arabia Saudita e Irán. Con una población mayoritariamente xiita, pero con un líder sunita, el país depende de Riad para su seguridad interna, lo que, generalmente, garantiza un alineamiento instantáneo de Bahrein a la agenda política saudita.
Los Emiratos Árabes Unidos, más independientes económicamente, muchas veces eligen la neutralidad comercial entre Riad y Teherán, una vez que, durante las sanciones impuestas a Irán, Dubai se convirtió en centro financiero y en el puerto que movía las cargas destinadas a Teherán. Sin embargo, sospechas internas del pasado hicieron que las monarquias de Dubai y Abu Dabi creasen una política estricta y de cero tolerancia hacia grupos islamistas. Durante la Primavera Árabe, en 2011, el brazo de la Hermandad Musulmana, el Al Islah, ha influido en los emiratos más pobres de la Confederación. Dubai y Abu Dabi, las monarquias más prósperas, decidieron extinguir las aspiraciones de este y otros grupos islamistas de forma bastante radical, alineándose politicamente con Arabia Saudita.
Entre los países miembros del CCG, Catar, un país con apenas 2.4 millones de habitantes -y el 90% de ellos, expatriados- y con aproximadamente 11 millones de km2, es el que mantiene la política externa que más se diferencia a la de sus vecinos. Además de los lazos con Irán, el apoyo abierto a la Hermandad Musulmana en Egipto, y también a ciertos grupos islamistas de oposición en Siria y Libia, hizo que Arabia Saudita, Bahrein y Emiratos Árabes Unidos retirasen a sus embajadores del país en 2014. Luego de negociaciones, la cuestión fue resuelta diplomáticamente, pero en ese momento quedó claro que Catar necesitaría alinearse al resto del Consejo para que hubiese más cohesión estratégica.
Mientras tanto, el flujo financiero constante proveniente de Catar para esos grupos islamistas chocó con las políticas norteamericanas de combate al terror, convirtiendo al país en una posible amenaza para el Consejo, que está alineado a la agenda estadunidense.
El impacto económico
Los países del Golfo están entre los más ricos del mundo. Catar tuvo el mayor PIB per-capita de 2016. A diferencia de sus vecinos, no es el petróleo, sino la explotación de gas natural licuado lo que garantiza la fuerte economía del país. Catar es el más grande exportador de Gas Natural Licuado (un tercio del comercio mundial). La aproximación natural con Irán se debe al hecho de que el mayor campo de gas natural descubierto hasta hoy, llamado South Pars/ North Dome Fields, es compartido entre estos dos países. Cubriendo una área de 9 700 km2 dentro de la cual 6 000 km2 (North Dome) pertenecen a Catar y 3 700 km2 pertenecen a Irán, la producción del campo es de más de 60 millones de pies cúbicos diarios. En abril de este año, Catar ha declarado sus intenciones de recomenzar el desarrollo del área sur de North Dome, cuando cerró una moratoria autoimpuesta hace 12 años. Según el CEO de Qatar Petróleum “un estudio confirmó el potencial para el desarrollo de un nuevo proyecto con una capacidad de 2 billones de pies cúbicos diarios.” La decisión seguramente puede ayudarlos a mantener su vantaja competitiva en 2020, cuando se especula una disminución de la demanda global.
El comercio de GNL entre los países del Golfo es relativamente pequeño: el gasoduto entre Catar y Emiratos Arabes, y que también abastece a Omán, llamado Dolphin, consume 1.8 billones de m3 diario, y su capacidad es de 33 billones de m3 por año. Sin embargo, los más grandes compradores del GNL catarí provienen de Asia. La japonesa JERA Co., mayor compradora de GNL actualmente, fue informada por Qatargas que no habría ningún cambio en el comercio con Catar. Sin embargo, el 12 de junio la compañía declaró que “la crisis es una cuestión geopolítica de Medio Oriente, existiendo la posibilidad de impactar en el sector de Energia, y que, por lo tanto, estarían atentos al movimiento del mercado.”
Las operaciones logísticas, a su vez, se verán bastante afectadas. Seis barcos-tanque anclados en Emirados Árabes deverán ser removidos. Barcos oriundos o destinados a Catar no podrán utilizar puertos estratégicos de la región, como Fujairah, por ejemplo, un puerto clave en EAU para abastecimiento de tanques. La mayor compañía marítima de conteineres – Maersk Lines – fue oficialmente informada de la nueva regulación y publicó esta semana que está buscando rutas alternativas para mantener el comercio en la región. Las líneas aéreas enfrentan problemas similares: la ruta da Qatar Airways, por ejemplo, fue drásticamente reducida, y compañías aéreas como Etihad e Emirates ya cerraron su ruta hacia Catar. Más allá de eso, el país cuenta con apenas una frontera terrestre (con Arábia Saudita) que en este momento se encuentra cerrada. Por ser un país que depende mucho de la importación de alimentos, el bloqueo de los países vecinos viene asustando a la población sobre una posible crisis de alimentos. Según el periódico catarí AlJazeera, muchos ciudadanos ya comenzaron a almacenar alimentos y productos básicos.
Hay también una posible, pero muy remota, posibilidad de una represalia por parte de Catar, según algunos analistas. A pesar de no tener contratos directos con el pais, Egipto cuenta con el GNL catarí para su abastecimiento. Las negociaciones, a su vez, están siendo llevadas a cabo por tradings de Suiza, que no utilizan barcos de Catar; de esta forma no tendría impacto el bloqueo impuesto por el CCG. Sin embargo, Catar tiene una forma legal de restringir el usuario final de sus productos.
Según analistas, la elección de Arabia Saudita como player central de las relaciones de los Estados Unidos con Medio Oriente, ignorando el importante papel que desempeña Irán en la región, fue un error estratégico de Washington: si lo que espera Occidente es un Medio Oriente con mayor estabilidad, seguramente no será posible conseguirlo en términos únicamente sauditas, sin la inclusión de los intereses de otros playersfundamentales para la región.
El mercado espera el desarrollo de la crisis diplomática, pero también se prepara para todos los escenarios posibles. Entretanto, más allá de todas las incertidumbres políticas, hasta ahora nada parece indicar que se desatará una crisis en el mercado de GNL. La decisión de la CCG parece un camino sin retorno para todos los involucrados en el contexto. Es necesario saber ahora si Catar va ceder a la presión de sus vecinos o si, eventualmente, saldrá del bloque, creando así un nuevo contexto en en complejo juego geopolítico de la región.